Minha irmã ficou encarregada de arrumar um novo apartamento para mim e quando
ela arrumou um aconchegante apartamento, ela mesma se encarregou de arrumar a
minha mobília, trazendo-a do antigo apartamento para este, uma vez que eu era
comissária, fazendo vôos internacionais e quase não tinha tempo para nada..
Quando finalmente conheci, fiquei encantada com ele e a arrumação dos móveis,
ficou excelente, talvez eu mesma arrumando não tivesse ficado tão bom.
Na primeira noite me joguei no sofá após ter feito um chá para mim, estava
realmente esgotada com as viagens e a empresa estava exigindo demais de todos
nós. Fiquei ali de olhos fechados, tentando relaxar um pouco, quando ouvi um
barulho de coisas caindo na cozinha, barulhos de talheres, foi um barulho imenso
como se tivesse caído todos os talheres que tinha na casa. E ao chegar na
cozinha não havia nenhuma colher que fosse no chão. Aquilo me deixou perplexa.
Procurei não pensar muito no assunto, estava em uma fase de muito trabalho e
isso era tudo. Ao me deitar, passados algum tempo e já bastante sonolenta eu
ouço um barulho de borbulhas, um barulho como se alguém estivesse em uma piscina
e ficasse com a boca na água e soprando, jogando o ar para fora da água. Na
terceira vez que ouvi eu fiquei sentada para ouvir melhor, mas o som parou.
Liguei as luzes e fiquei mais um tempo observando e então voltei a dormir.
Dois dias depois teria uma nova viagem ao exterior e não tive nenhuma outra
surpresa nesses dois dias.
Quando voltei comecei a reparar que coisas deixadas por mim estava fora do lugar
e mudavam de posição e de chegar ao ponto de reparar na sala uma estatueta que
tinha comprado na Europa e que estava virada de frente ao ir para cozinha, ao
voltar estava de costas. As coisas mudavam de lugar. Colocava minha bolsa no
sofá e aparecia no quarto. Meu relógio de estimação foi parar em cima da máquina
de lavar roupa. A caneta que sempre uso e sempre fica em minha bolsa apareceu
atrás do vaso sanitário. Meu estojo de maquiagem apareceu no armário da cozinha.
Minha escova de dentes estava dentro de um prato no armário. O porta retrato que
tinha na mesa da sala amanheceu todo estilhaçado, ou seja, o porta retrato
estava no mesmo lugar, mas o vidro dele estava espalhado por toda a sala. Os
aparelhos eletrodomésticos começaram a dar problemas, uma hora funcionavam outra
hora não. O conjunto de xicrinhas de porcelana chinesa que tinha estavam todas
ali quando fui tomar banho e estavam em cacos ao voltar do banho. Havia também
barulhos de gaveta abrindo e fechando e barulhos parecidos com o de garrafa de
refrigerante sendo aberta sozinha e a descarga do vaso era acionada sozinha
também.
Ao voltar de mais uma viagem e ao me deitar, ouvi barulho de alguém batendo os
dentes insistentemente, era um barulho igual ao que se faz quando abrimos a boca
e fechamos com força e deixando a boca aberta, batendo os dentes mesmo e o
barulho de alguém soprando na água fazendo o barulho de borbulha era mais alto
agora do que da última vez. Aquilo me deixou realmente com medo e o pior estava
por vir quando acabei sendo jogada fora da cama por algo invisível e do medo
passei para o pavor. Acabei fechando a porta do quarto e indo dormir na sala.
No dia seguinte fui visitar minha mãe e me abri com ela e ela disse que não era
possível e que essas coisas não existiam, vi que com ela não adiantava falar,
mas ela disse que iría dormir lá em casa, fazer companhia até mesmo me dar apoio
e carinho. Eu disse que tudo bem. Ao vermos um pouco de televisão e irmos nos
deitar (ela estava na cama comigo). Após uns quinze minutos, começou o barulho
de borbulhamento como se houvesse água bem perto e os dentes logo após começaram
a bater várias vezes e falei assustada para minha mãe se ela estava ouvindo
aquilo e vi que pela cara assustada dela ela também tinha ouvido, assim como o
barulho de portas batendo com violência. Após um breve silêncio ela disse que ia
ao banheiro e ao chegar lá sentiu alguém rir bem perto dela, o que fez com que
ela voltasse correndo.
Acabamos perdendo o sono de vez e ela disse que precisávamos nos acalmar e fomos
fazer um chá de camomila. E quando começou a amanhecer, já um pouco mais
relaxada, fomos dormir. Só que nossa aparente tranqüilidade terminou rápido
porque a cama toda começou a estremecer e dar solavancos e logo após isso,
quando eu e minha mãe estávamos bem juntas, nós duas fomos jogadas para fora da
cama.
Esta foi a gota d'água para eu sair definitivamente do apartamento e nunca mais
voltar.
Janete - Rio de Janeiro - RJ